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Algora com investimento adicional de 20 milhões de euros na Póvoa de Santa Iria
In Jornal de Negócios, 24 de novembro de 2020
Póvoa de Santa Iria rega indústria das algas com 20 milhões
O Parque Industrial de Póvoa de Santa Iria já produz microalgas desde 2018, mas vai agora passar esta atividade sustentável a uma escala industrial, pretendo instalar a maior unidade da Europa de produção de microalgas. Aí quer também iniciar outros projetos como a produção de hidrogénio verde e de biocombustível para a aviação.
A Algora vai investir nesta localização, que considera “ideal” para instalar a “tecnologia do futuro”: aquela que permite a exploração de microalgas.
Tendo em conta o conjunto dos projetos que já arrancaram, e aqueles que vão ser iniciados entre 2021 e 2023, espera-se que o parque industrial dê emprego direto a 300 colaboradores, dos quais mais de 150 altamente qualificados, anuncia a Algora. O volume de negócios anual deverá ascender aos 40 milhões de euros, resultando do investimento adicional de 20 milhões de euros nos próximos dois anos. Números que comparam com os 110 trabalhadores que o parque contava em 2017, e os 18 milhões de euros de proveitos anuais nesse ano.
Mas o que mudou? Duas empresas portuguesas, a A4F – Algae for Future e a Green Aqua, decidiram juntar-se e criar a Algora. A primeira trouxe a tecnologia, a segunda o investimento – de 16 milhões de euros, aos quais se juntaram 6 milhões de fundos comunitários do Mar 2020 – e começaram a produzir microalgas nas reservas de salmoura do complexo industrial da Solvay Portugal, na Póvoa de Santa Iria, em 2018.
Este ano, a Algora comprou a Solvay Portugal - Produtos Químicos, proprietária deste parque industrial, com exceção do negócio de peróxido de hidrogénio, que vai continuar a operar mas sob a alçada da Solvay internacional. Passa então para as mãos da Algora a gestão do parque e a operação de clorato de sódio, que pretende manter e melhorar. Desta forma, a Algora espera criar a maior unidade da Europa de produção de microalgas e desenvolver três outros projetos.
Algas para que vos quero
Produtos alimentares, farmacêuticos, cosméticos, rações animais e biofertilizantes: tudo isto poderá ter na sua composição elementos extraídos de microalgas, que vão substituir “ingredientes” menos sustentáveis. Neste sentido, a Algora procurou aliar-se a gigantes europeus de vários setores e ajudar a tornar os seus produtos mais sustentáveis. No caso das margarinas, por exemplo, pode eliminar-se o óleo de palma da receita, um objetivo para o qual a Algora vai trabalhar em colaboração com a gigante holandesa do setor, a Upfield. Nas rações animais, é a farinha de peixe que pode ser trocada por produtos resultantes da refinação das algas. Nesta área, a aliada da Algora é a ForFarmers. Este projeto, na casa dos 10 milhões de euros, vai ser financiado pelo BIC – Bio-based Industry Consortium, uma associação europeia que junta vários atores da bioindústria.
Paralelamente, a Algora quer utilizar a tecnologia de que dispõe para produzir bio jet fuel, um combustível amigo do ambiente que pode substituir outros mais poluentes no setor da aviação. Além desta fonte de energia, em Póvoa de Santa Iria também se vai produzir hidrogénio, tanto a partir do processo de eletrólise da água que tem sido mais falado como também a partir de biogás. Tendo em conta que o processo de fabrico de clorato de sódio pressupõe a obtenção de hidrogénio como subproduto, e que este gás já era utilizado para produzir peróxido de hidrogénio, este parque industrial é um dos poucos em Portugal que está licenciado para o fabrico e armazenamento de hidrogénio.
Para isto, vão ser necessários outros 10 milhões de euros, financiados por fundos comunitários – do Portugal 2020 e por capitais próprios de parceiras, em partes iguais. Neste projeto participam empresas como a Galp, TAP, Dourogás, a Tratolixo e Solvay.
Numa ótica de manter o dinamismo destas tecnologias, o parque industrial já acolhe um laboratório colaborativo de biorrefinarias, o Bioref, que vem fazer a ponte entre os avanços tecnológicos mais recentes e a sua utilização ao nível empresarial. Neste campo estão envolvidas várias universidades e institutos de ensino superior de todo o país, desde Lisboa até Portalegre, Aveiro, Porto, Minho e Trás os Montes, assim como o LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia.
“Estamos absolutamente convictos que temos a localização ideal para projetos industriais da nova geração e completamente disponíveis para que empresas europeias olhem e venham instalar-se aqui”, afirma o presidente do conselho de administração da Algora, Nuno Coelho, esperando que a aquisição da Solvay Portugal tenha também servido para “fortalecer os laços” com a Solvay internacional, e que isto abra a possibilidade de replicar os projetos da Póvoa de Santa Iria “noutros sítios pelo mundo”.
Um parque verde como as algas
O Parque Industrial da Póvoa de Santa Iria não deverá limitar-se a atingir a neutralidade carbónica com as suas operações – quer mesmo superá-la. Isto é, o parque deverá consumir mais dióxido de carbono (CO2) do que aquele que produz, já que as suas atividades não só não emitem CO2 como precisam de o utilizar nos seus processos. Ao mesmo tempo, a Algora quer gerar pelo menos 20% da energia que se consome no parque a partir de fontes renováveis, através da instalação de uma central fotovoltaica que vai começar nos 2 megawatts por hora (cobrindo 5% das necessidades) para depois chegar aos 10 megawatts. Por fim, a empresa quer contribuir para a transição energética com a produção de hidrogénio verde, e também para a uma indústria também mais sustentável, ao promover o fabrico de produtos de base biológica e de economia circular.
Novo parque com novo dono
A Algora foi constituída para tomar o parque industrial e tem dois acionistas: a A4F – Algae for Future e a Green Aqua. A primeira destas entidades divide-se em duas empresas, especializadas em tecnologias complementares de exploração de microalgas: a Biotrend e a A4F, AlgaFuel. A A4F fechou 2019 com um volume de negócios de 8,6 milhões de euros e lucros de 1,1 milhões de euros. Já no caso da Green Aqua, o volume de negócios atual é marginal, já que a comercialização de microalgas à escala industrial iniciar-se-á apenas em 2021. As projeções financeiras da empresa apontam para o “break even” em 2022. Os últimos beneficiários das duas holdings da Algora são os membros das respetivas administrações: Nuno Coelho, Vítor Verdelho Vieira, Manuel Gil Antunes e Bruno Sommer Ferreira, da A4F e Maria Teresa Caetano Rodriguez pela Green Aqua.
"Estamos disponíveis para que empresas europeias venham instalar-se aqui."
NUNO COELHO
Presidente da administração da Algora
A Algora espera atingir um volume de negócios de 40 milhões de euros depois de alargar as operações.
- Os dois novos projetos preveem um investimento de 20 milhões de euros com a ajuda de fundos comunitários.
- O parque industrial deverá ascender aos 300 trabalhadores, 150 dos quais altamente qualificados.
- Um quinto da energia consumida no parque industrial deverá ser gerada no complexo a partir de fontes renováveis.